sábado, 31 de março de 2018

Breve consideração sobre o artigo: Jesus não morreu pelos “nossos pecados” e sim por enfrentar o sistema.

Em primeiro lugar no que diz respeito a interpretação bíblica tudo irá se tratar de com que pressupostos você a interpreta. Entendo que o texto de Alberto Maggi fez um recorte histórico da bíblia e teve como objetivo a tentativa de situá-la através de visões sociológicas. Com a mesma lógica eu poderia pegar a bíblia e criar quaisquer argumentos para fundamentar as minhas suposições através de versículos isolados, fora do contexto. Como estamos - dito para colegas do meu curso - no curso de Psicologia conhecemos bem tanto o conceito de percepção como o de subjetividade, que nos dá tranquilidade para entender tantas interpretações variadas a respeito de um mesmo texto(s), a bíblia.

A primeira crítica que o autor faz é de que a morte de Jesus não fora para resolver o problema da moralidade humana (pecado), no entanto essa crítica é para confirmar uma ideia de homem baseada na sociologia, onde a moral se dá no campo social, dito de outra forma o problema moral do homem é constituído socialmente (normas sociais), negligenciando outras teorias que pressupõe ou que o homem nasce com questões de ordem moral (Kant) ou que estes são internalizados e constituem seu psiquismo (Freud).

Na bíblia o problema moral do homem é tratado de forma central, ele é moralmente corrupto e nascido desta forma, suas atitudes (emoções, pensamentos e ações) só confirmam aquilo que ele já é em sua essência. Mas em que me baseio para afirmar isso que a bíblia nos diz? Me baseio nas palavras do próprio Jesus a respeito da lei de Deus quando ele afirma que “quem não tiver pecado que atire a primeira pedra” (João 8.1-11), isso foi dito diante de religiosos que pegaram uma mulher em adultério. Jesus deixa claro que existe o pecado (problema moral do humano), pois antes desse acontecimento interpreta a lei de Deus que menciona o adúlterio: "Vocês ouviram o que foi dito: 'Não adulterarás'. Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração.” (Mateus 5.27-28). Jesus deixa claro que a lei de Deus coloca todos os seres humanos em um mesmo barco, o de pecadores, pois quem em sã consciência nunca desejou um homem ou uma mulher de alguém em seu coração? Em Mateus 5 ele interpreta outros dos 10 mandamentos com este mesmo intuito, o de mostrar a todas as pessoas que existe o problema moral (pecado) e que faz parte da vida de todo o humano.

Então o autor menciona o fato de que o assassinato de Jesus se deu por conta de interesses da casta sacerdotal no poder, a nível social e físico esta fala está correta, no entanto dizer que esse fato desconsidera a verdade teológica, e portanto, metafísica de que fora pela vontade de Deus que Jesus morreu é querer enxergar a tromba do elefante como uma cobra, desconsiderando as outras partes do elefante para se compreender o todo. Pois as próprias falas de Jesus ratificam que esta era a vontade de Deus e que ninguém o podia matá-lo se Deus mesmo não o quisesse (João 10.18).

A respeito do problema da culpa como um problema religioso que pode se tornar um problema psicológico, tenho a mesma visão, no entanto querer utilizar Jesus e a Bíblia para fugir do problema moral do homem é colocar a morte e ressurreição, vida e obra de Jesus no lixo. Como disse anteriormente Jesus não condenou uma pessoa em pecado (adultério), mas nivelou e chamou a todos para um reconhecimento da natureza humana distante do padrão divino (lei de Deus). Jesus não chamou ninguém para um sentimento de autocomiseração, não chama ninguém para uma vida de culpa constante como a religião o faz, mas sim chama as pessoas a um reconhecimento (Lucas 5.32) daquilo que ele diz sobre o que é o homem, um ser pecador, e portanto necessita de ser tornado justo diante de Deus pelo sacrifício que Jesus pagou na cruz.

Link do artigo "Jesus não morreu pelos “nossos pecados” e sim por enfrentar o sistema": https://www.brasildefato.com.br/2018/03/31/artigo-or-jesus-nao-morreu-pelos-nossos-pecados-e-sim-por-enfrentar-o-sistema/